2011/07/10

Vida

Que beleza incrível. Que cena difícil de descrever. Quem dera houvesse testemunhas, mas não havia. Há muito se extinguiram. Os poucos restantes traços de sua existência enfim desapareciam.

O calor era tão intenso que as rochas já começavam a evaporar. Logo não restaria coisa alguma, logo o núcleo teria o mesmo destino da atmosfera e dos oceanos.
Aquela enorme rocha, antes tão cheia de elementos dinâmicos, dava seus últimos suspiros, gritos estridentes de vapor do que não se imaginava senão como firme sólido, alicerce para as formas de vida que já a tinham habitado. Mas não havia tristeza; não havia sentido para tristeza. E logo não haveria nada.

Pesadas estruturas se desfaziam derretidas como o tempo de Dali, para logo evaporarem. Enfim, a efêmera vida, em todos os seus sentidos, toda sua alegria e tristeza, todos os medos e esperanças, encontrara sua derradeira paz. O esquecimento era o que restara para aquela breve cena num ato mais longo, mas igualmente insignificante, da estrela que agora se alimentava de sua cria.

Formada do mesmo pó, nunca teve o brilho de sua enorme vizinha, elemento central daquele pequeno carrossel, um apenas de 200 bilhões de outros, que dançam em torno do impassivo e insaciável maestro. Não, ela nunca foi tão grande, mas tinha seus atrativos. Produziu vida com a radiação e pedradas que recebeu. Uma concatenação de eventos improváveis produziu o ainda mais improvável. Ou seria uma série de eventos inevitáveis produziu um evento que, enfim, atingira seu fim inevitável?
O que quer que tenha sido, não é mais. Agora jamais será. Era como se jamais tivesse sido.

O que será que pensaria algum ser racional que estivesse, há poucos milhões de anos atrás, fazendo seus planos, se visse de repente esta cena? O que pensaria se visse o fim de sua arte, de sua história, de sua descendência? Como olharia para seus filhos se lembrasse sempre do fim inevitável? Como pensaria o amor, o medo, a esperança de retribuição por trás de seus atos? O que esperaria de seus dias? O que faria de suas irritações e tristezas?

Agora não importa. Sua importância, antes questionável, se não encontrou uma resposta definitiva, encontrou uma situação definitiva. As últimas resistências cedem e se consuma o ato final: o material que não foi tragado é expelido como uma fumaça se dissipando pelo ar. Mas essa poeira logo se dissipará, e logo não se poderá dizer que um dia houve uma pedra ali. Ou que nessa pedra havia coisas que se movimentavam como que por si mesmas. Ou que algumas dessas coisas acreditavam que se alegravam e se entristeciam, que odiavam e matavam, ou que amavam.

Ninguém mais dirá nada. Ninguém mais há para dizer. Nada mais se pode dizer.

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