2007/04/18

Especial

Depois de muito tempo, eu volto a postar. E material do ano passado, bem atrasado. Pior: apenas isso. Mas deixem-me explicar: é que eu não tenho tido muito tempo por causa de namoro somado a trabalho e faculdade. Falando nisso, é sobre isso o texto de hoje. Espero (não muito) que gostem.
Este é um texto de discussão de idéias e contextos relacionados à educação especial. É em forma de diálogo, entre duas pessoas. É uma maneira em que eu gosto de pensar.

-Ah, é você! E aí?
-Legal a alegria que você demonstra ao me ver. “Ah, é você!”...
-Qual é? Eu só... não esperava, só isso.
-Certo.
-Pois é, já tô indo.
-Como eu ia dizendo...
-Não, é que eu tenho que fazer um trabalho.
-Hum...
-De repente até tu pode me ajudar a ter umas idéias.
-De repente...
-É sobre pessoas com necessidades especiais, mais especificamente na área da educação.
-E o que quer dizer a expressão?
-Quer dizer que essas pessoas têm alguma deficiência ou diferença muito grande que interfere no aprendizado.
-Explique. Cite exemplos.
-Um cadeirante, por exemplo. A escola precisa ser adaptada para permitir a locomoção desse aluno, o que inclui rampas, espaços maiores nas salas de aula e fora delas. No caso de um surdo, deve-se usar mais recursos visuais nas aulas e aprender pelo menos um pouco de Libras.
-Então esses alunos são chamados de educandos com necessidades especiais por causa da interferência que causam no espaço escolar?
-É, eu acho que é por isso.
-Então eu não entendi.
-Como não entendeu?
-Não entendi por que eles são chamados de alunos com necessidades especiais. Os outros alunos, como são chamados? Ou não são chamados?
-Não são chamados de nada, só de alunos. Os primeiro são chamados assim por terem necessidades diferentes.
-Mas eles também não causam interferências no ambiente escolar?
-Bem, sim, mas...
-E que nome se dá a eles então?
-Mas acontece que eles causam interferências normais.
-O normal não é causar interferência? O que são interferências normais para você?
-Ora, são normais! São, por exemplo, que não precisam modificar a escola. Pronto!
-Isso não responde. Pra começar a escola não existe por si só. Ela só existe por causa dos alunos, logo, não dá pra se pensar uma escola que não seja construída a partir do perfil desses, quaisquer que sejam. A escola não estava lá quando surgiram os alunos; ela surgiu por necessidade deles. Então, se a escola não atende os alunos o erro é de quem fez a escola.
-É, mas você tem que considerar que antes não havia esses alunos.
-E por que não? Desde o início do Velho Testamento que se tem registro de paralíticos, surdos, cegos e etc. Onde eles estavam quando fizeram a escola?
-Fora da escola.
-Com certeza; não havia escolas ainda...
-Não, o que eu quis dizer é que essas pessoas não freqüentavam a escola.
-Então agora que eles estão chegando a escola tem necessidade de modificações especiais, tanto física como pedagogicamente, é isso mesmo?
-É.
-Mas por que eles estavam fora da escola?
-Na verdade alguns deles estavam em escolas especiais e outros totalmente fora.
-Por quê?
-É tudo uma questão de integração social. Conforme a escola tem evoluído o acesso deles tem aumentado. Antes não havia integração nenhuma, depois foram criadas as escolas especiais, depois as classes especiais; agora tá quase totalmente integrado esse tipo de aluno na escola comum.
-O que eles faziam nessas escolas e classes especiais?
-Eles aprendiam de forma diferente. O objetivo dessas escolas era mais preparar eles pra uma integração com os outros do que o aprendizado escolar em si, como nas outras escolas.
-Deixe-me ver se eu entendi: os chamados alunos especiais eram separados dos chamados alunos normais a fim serem preparados para se integrarem a eles? Eles eram excluídos para serem incluídos, é isso mesmo?
-Bom... na verdade, sim, mas... Olhando assim, realmente...
-Não parece ser uma boa idéia.
-Mas nessas escolas eles tinham atendimento diferenciado, de acordo com suas necessidades.
-Então agora eles têm esse mesmo atendimento nas escolas comuns?
-Teoricamente sim.
-Ou jogaram a responsabilidade na mão de outros. Ou não queriam mais gastar dinheiro com as tais escolas.
-Boa ou má intenção, o caminho é bom, desde que seja implementado direito.
-Ou seja, que as necessidades desses alunos sejam atendidas. O que nos leva àquele assunto da nomenclatura. Agora que estão todos na mesma escola, vão continuar chamando esses alunos de pessoas com necessidades especiais?
-Sim, claro. Eles têm necessidades especiais. Ainda tem diferença entre eles e seus colegas.
-Tipo o quê?
-Tipo a comunicação.
-Tá certo que se pode ter um padrão de comunicação que abrange muita gente e quem não conseguir usar esse padrão ter uma nomenclatura própria, mas e quem usa o mesmo padrão de forma diferente ou não eficientemente? Não tem necessidade especial também?
-Você tá falando de quem tem dislexia ou dislalia? Eles também estão no grupo.
-Não precisa ir tão longe. Eu me refiro a pessoas como você.
-Como é? Como assim pessoas como eu? Você tá me chamando de quê?
-Estou dizendo que você poderia ser considerado um educando com necessidade especial, pois tem dificuldade de se expressar, tem um vocabulário restrito e uma certa dificuldade de raciocínio lógico. Sua dificuldade deve poder ser superada se você tiver um atendimento especial, que focalize suas necessidades. Estou errado?
-Apesar de eu não ter gostado do exemplo, eu acho que concordo.
-O que eu queria dizer é que todos os alunos, supondo que não há alunos iguais, devem ter necessidades diferentes, que devem ser atendidas de forma diferente. Ou vocês já descobriram alguma forma padrão que funciona para todos?
-...bom...
-Sendo assim, acredito que todos os educandos deveriam ter atendimento diferenciado a fim de que seu aprendizado obtenha maior sucesso. Claro, se esse for o objetivo do ensino formal.
-...É, eu acho que isso já é outra história... Olha, eu tenho que fazer um trabalho, então eu já vou indo, tá bem?
-Se precisar de alguma coisa...
-Não! Digo, não precisa se incomodar. Obrigado! Tchau!

É isso. A Educação tem evoluído, de maneira geral, e também o atendimento a quem tem necessidade especial. Mas ainda não chegamos a um nível de inclusão satisfatório, porque ainda precisamos de nomenclaturas para pessoas.